Adolescência e Saúde Mental Pós Pandemia
Em tempos de pandemia COVID-19 além de acompanharmos as orientações de médicos e cientistas, encararmos estresse, dor, medos e incertezas, refletir sobre o que encontraremos no futuro, o que será herdado desta pós-pandemia, é fundamental. Talvez assim existam possibilidades de ações preventivas.
Já é possível observar que o bem-estar mental das pessoas encontra-se afetado pelas transformações obrigatórias vividas. Mas não há dúvida que uma pandemia de saúde mental está desenhada. “Mesmo quando a pandemia estiver sob controle, luto, ansiedade e depressão continuarão afetando a população” é o que diz a ONU (2020).
Podemos dizer que as crianças e os adolescentes serão sensivelmente afetados na medida em que se apresentam mais vulneráveis, possuindo menos recursos para lidar com a situação.
Ser adolescente é um momento em que, além de todas as alterações do corpo, é preciso lidar com as transformações de papéis, identidade e relações com o mundo, que perpassam essa fase do desenvolvimento. A busca pela identidade é francamente apoiada na experiência do encontro com o grupo de iguais, e a escola tem aí papel relevante. A construção da imagem de si mesmo, um tanto instável, depende do olhar do outro, do olhar de reconhecimento. Cientes de que é também na virtualidade que este “eu” se constrói, não podemos esquecer dos possíveis efeitos da ausência ou precariedade de interações sociais concretas no processo de desenvolvimento psicossocial.
Nestes tempos de pandemia uma das regras importantes, a do isolamento social, afetou profundamente a vida e o desenvolvimento desta faixa etária. Mesmo que compreendendo a necessidade desta regra e, conectados através da internet, se vêem afastados dos encontros entre amigos, festas, esportes, viagens e rotina escolar conhecida. Tal isolamento acaba por gerar sofrimentos, insônia, alterações no humor, aumento da ansiedade, crises de pânico e sensações de vazio.
A preocupação com os adolescentes é grande pois a ansiedade e a depressão tem aumentado nesta última década em torno de 37% e a taxa de suicídio é a segunda causa mortis na faixa de 15 a 29 anos..
Como ignorar todos estes aspectos? Alguns Núcleos de Saúde Mental, Institutos e Universidades, já se mobilizam ocupando-se de pesquisas e projetos, com o intuito de pensar estratégias que acolham estes jovens, que escutem o que tem a dizer, que os ajudem a elaborar sua ansiedade e suas perdas. Não seria possível esquecer a colaboração da família no que se refere aos cuidados desses jovens. Segundo a UNICEF a mediação da família é fundamental quanto às informações recebidas, à criação de um ambiente seguro e “escutador”, tentando facilitar o enfrentamento e a elaboração de seu sofrimento.
Já estamos cientes de que teremos uma chamada “quarta onda” de pandemia e que se refere aos efeitos do trauma psíquico, pela exaustão do ser humano e sociedade de um modo geral – uma pandemia na saúde mental.
Assegurar a adoção de medidas, tais como apoio psicoterápico e programas socioeducacionais para os adolescentes, para fortalecimento da saúde mental deve ser um compromisso a assumir.
Investir na prevenção e no diagnóstico precoce de doenças mentais é a melhor estratégia para reduzir as repercussões negativas promovendo um desenvolvimento físico e mental destes jovens.
Teresinha Maria N F Anciães